Programa de Restauro Ecológico
Como prática, uma atividade humana pode ser considerada regenerativa (ou sustentável) se o impacto que tem no seu cerne incluir os seguintes princípios: reciprocidade, restauro e regeneração (os 3 R’s).
-
A reciprocidade é o princípio orientador da ação e da atitude, que é uma consequência necessária da procura da sustentabilidade. Reconhece que a extração contínua de biomassa de um ecossistema não pode, em última análise, apoiar o equilíbrio desejado que o projeto procura. Embora acabe por ser compensada pelo sistema natural, esta recuperação dos recursos naturais leva muito tempo. Reciprocidade significa então que nós, a componente social deste sistema socioecológico integrado, devemos levar apenas o que precisamos para a sustentabilidade da nossa subsistência socioeconómica, ao mesmo tempo que devolvemos à componente ecológica aquilo de que esta necessita para manter a sua sustentabilidade.
-
O restauro é o princípio que orienta o processo de intervenções ou ações para restaurar a funcionalidade natural do sistema. Este é um processo proativo cuidadoso que inclui ações cientificamente informadas e tecnicamente possíveis para o envolvimento na reabilitação de ecossistemas impactados, tais como ecossistemas do solo, e o restauro de ecossistemas destruídos, tais como ecossistemas ribeirinhos e bosques. Se for bem-sucedido, um conjunto de intervenções restaurativas permitirá que os ecossistemas regressem gradualmente a um estado em que a regeneração autógena ocorra e a sustentabilidade seja uma realidade.
-
A regeneração é um princípio que apoia tanto as componentes sociais como ecológicas, de forma diferente mas com benefícios iguais. A regeneração no contexto social pode ser descrita como 'o retorno da esperança e da inspiração', o 'retorno dos benefícios sociais' ligados à subsistência local, como por exemplo o 'retorno dos benefícios financeiros'. Contudo, subjacente a esta regeneração está o 'retorno da funcionalidade natural e dos benefícios naturais', através de processos regenerativos naturais (Commonland, the 4 returns framework e o Millennium Ecosystem Assessment).
-
Com base nos três R's, o nosso trabalho principal centra-se em três componentes temáticas, inter-relacionadas:
-
O objetivo é restaurar toda a bacia hidrográfica contida dentro dos limites do projeto, o que inclui a rede de linhas de água (perenes e sazonais) e a parte do rio Pônsul que corre através da área do projeto. Ao concentrar-se na retenção e infiltração de água, e com base em estudos ecológicos, serão utilizados inúmeros métodos para alcançar a sustentabilidade hídrica, que incluem a vegetação e outras formas de socalcos de superfície e declives (por exemplo, marachas), a construção de charcas juntamente com reservatórios de água, bem como o plantio de vegetação apropriada para melhorar as condições do solo e retardar o escoamento das águas pluviais.
-
O objetivo é restaurar os solos impactados e degradados através do melhoramento do coberto vegetal e dos fungos do solo, para aumentar a capacidade de retenção de água no solo.
A conservação da água e do solo sustenta todo o projeto.
-
O objetivo é reforçar a proteção fornecida para as espécies endémicas e para espécies importantes em termos socioeconómicos, além de controlar e gerir as espécies invasoras da fauna e da flora. A melhoria da conservação e manutenção de espécies endémicas e socioeconomicamente importantes aumenta a biodiversidade desta área. O plantio de vegetação e árvores endémicas não só atrai aves para a área, mas também melhora as comunidades inerentes de morcegos, abelhas e borboletas, bem como outras espécies associadas. Este processo constitui igualmente um incentivo a que as espécies de distribuição geográfica específica e migratórias, tais como veados e aves, frequentem a área do projeto, uns para permanecerem e outros para utilizarem os habitats dentro desta bacia hidrográfica à medida que migram.
A melhoria das redes alimentares naturais envolvendo animais e plantas está na base da melhoria da biodiversidade e da funcionalidade dos habitats ou ecossistemas.
-
Enquanto aspeto importante do Programa Ecológico, o nosso trabalho primordial para a gestão sustentável do território tem dois objetivos principais:
-
Pretendemos trabalhar com os atuais utilizadores da terra com o objetivo de desenvolver processos de transição para a transformação das práticas correntes de uso da terra em práticas regenerativas de uso da terra.
-
Pretendemos criar projetos-piloto para o desenvolvimento de novas metodologias relacionadas com o uso da terra e criar projetos de demonstração que utilizem as abordagens atuais bem-sucedidas de gestão da terra. O objetivo é promover iniciativas a longo prazo que possam servir como modelos de 'boas práticas' e como 'base para a formação' de outros agricultores na nossa região.
-
A gestão sustentável da terra centra-se nos seguintes aspetos:
-
A utilização de métodos agrícolas industriais como o lavrar, a plantação de monoculturas e a utilização de sais químicos, incentivados pelos subsídios agrícolas, levou à existência de solos degradados e pobres em microbiologia. Para criar solos mais saudáveis, métodos como a utilização de escarificador (rippers) em vez de arados, o cultivo intercalado com plantas que enriquecem o solo, tais como leguminosas, a introdução de outras espécies microbiologicamente 'amigáveis' e socioeconomicamente importantes, juntamente com a introdução de métodos de pousio e de gestão 'holística' do gado, tudo isto aumenta a resiliência e a sustentabilidade deste sistema socioecológico.
-
Isto implica a introdução de técnicas que apoiam a vitalidade dos solos, assim como a fauna local e espécies da flora associada. Esta atividade deve ser desenvolvida como empresas socioeconómicas de apoio à economia local através da utilização do potencial ambiental de apoio às empresas agroflorestais, tais como a pluviosidade e a temperatura.